Estou vendo um fenômeno que não imaginava fosse acontecer com essa newsletter, vejo pessoas assinando o The Design Edition porque leram sobre em outras publicações dentro do Substack mesmo, ou por algum texto publicado no Medium - Bem vindos! 🙌🏻
Se passaram alguns meses desde o último texto, com um verão no meio aqui no hemisfério norte e meu Fiat 500 que pegou fogo enquanto estava dirigindo, extintor na mão foi o que salvou o carro 🔥 fiuuuu…
Site novo(?)
Comecei um longo e dolorido processo de redesenhar meu site (quem nunca?), quero sair de um paragrafo somente e colocar pelo menos alguns visuais das minhas experiências mais recentes, quero aprender Framer e quem viver verá…
Trabalho e diversão?
Eu costumo usar essa ferramenta como meu espaço seguro, onde posso falar o que penso. E meus amigos e amigas, como eu tenho vontade de me debruçar nesse teclado e falar sobre a onda de textos, vídeos, slideshows, stories, etc… sobre o último achado do pessoal “O Designer precisa saber fazer design” - really?!
O problema do Designer que não faz design não é exclusivo aos novos profissionais que se perderam no mundo dos processos, post-its na parede, e líderes que alimentam esse ciclo, mas também afeta designers seniors que se desapegam do craft como se isso fosse uma validação dos anos de experiência. É claro que fica mais difícil estar a par do que acontece na produção quando o time vai crescendo, as expectativas da empresa mudam em relação ao seu título mais senior que pede responsabilidades e entregas longe da camada de craft. Mas se você entrou nessa profissão por paixão ao Design, o cuidado com o craft esta na base de quem você é como profissional, aquela experiência mal feita deveria te incomodar mais do que a reunião com os C-Level da empresa pra falar sobre churn.
Designer Senior: “Eu não abro mais o Figma”
Conheço bastante gente que já não abre mais software de design há anos, eu mesmo fiquei um bom tempo longe dessas ferramentas, mas não vejo isso como um badge de honra, é na verdade algo bem triste, porque o craft é onde mora a diversão, é onde você se perde nas horas, é onde relaxamos, não é trabalho. Muito diferente de planilhas, budget, politicagem… isso é trabalho.
Se você despreza as motivações por trás de toda função que se transforma em inspiração, conexão e ligação emocional com o consumidor e o valor criado para os stakeholders, você não faz Design - Podemos chamar de Arquitetura de Informação, Pesquisa, UX… (já desabafei sobre isso) - Eu gosto de pensar que antes de ser um líder eu sou um Designer, antes de ter um curso, eu sou um Designer, antes de falar sobre estratégia eu sou um Designer.
Mas não foi sempre assim, por um bom tempo tentei ser aquele manager fodão que entende e acha solução pra tudo, mas nos meus anos de mercado eu realizei que sou um bom Designer. Não sou PM, não sou um marketeiro, então sento na mesa e mostro resultados de Design, e o que são resultados de design pra mim hoje? Valor de marca, posicionamento de mercado, experiência do produto (UX é somente uma peça desse quebra-cabeça).
Sempre foi tudo muito claro, mas gostamos de complicar as coisas e nos vemos vítimas da nossa própria angústia em “entregar valor” sem resultados objetivos.
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The Design Edition tem material nos seguintes formatos:
🎧 The Design Edition podcast (2018 - 2021)
👨🏻💻 Casos Reais de Design (vídeos)
🏷️ Mapeamento de Carreira (Google Sheet)
Abraço e até a próxima
Al Lucca
Perspicaz como sempre, grande LUCCA. Sempre é bom ler seus textos, que trazem as coisas preto no branco. Muitos designers seniores começaram a deixar o 'craft' de lado porque era a única maneira de subir de nível no contexto organizacional e se tornar um manager. Esse não é um problema único no contexto brasileiro; até no exterior, aqui na Noruega, tenho conversado com muitos profissionais da área que reclamam que os designers mais seniores passaram a focar menos na produção de artefatos e mais em subir de cargo.
Além disso, vejo que esse é também um grande problema para nós, líderes. Muitos projetaram suas carreiras dentro das empresas de maneira errada. Fala-se muito sobre a carreira em Y, mas, na prática, isso não funciona. Os designers que focam no tal ‘craft’ e, quando decidem se dedicar a uma carreira técnica, não tardam a entrar em um plateau do conhecimento e não veem mais evolução técnica.
Oi Al Lucca, ontem li seu post no linkedin, não conhecia você, suas ideias nem o Semafor. Adorei o texto, me subscrevo aqui e no Semafor que achei sensacional em conteúdo e design.
Tenho 56 anos, me formei em design em 1989, antes da existência do computador, fazíamos tudo na mão, o bom e velho craft.
As corporações pensam que o craft é baixo escalão. Mas isso é mito. A questão é que nós, designers, pensamos a partir do craft, e essa forma de pensar e ver o mundo, esse mindset, faz toda a diferença.
Planilhas, orçamentos, planejamentos, contratos, negociações, gestão, relacionamentos, business, resultados, tudo isso também é craft.
Eu acho que as corporações do século XX foram moldadas por engenheiros tayloristas com pensamento de escala industrial, mas no XXI devem ser de escala humana e moldadas por designers