Eu estava dando aquela navegada no LinkedIn e me deparo com o post do Dave Malouf, que acredito seja um dos pioneiros do chamado DesignOps. Esse post dele apareceu algumas semanas depois de um outro escrito pelo Stephen Gates, onde também escreve sobre o sofrimento de conseguir ser recolocado depois de ter sido desligado do seu último emprego.
Essas situações levantam algumas grandes questões:
É natural que a senioridade distancie os profissionais do craft, ficando as vezes difícil para você mostrar o seu impacto lá no final da entrega, e como a maioria das empresas relacionam design com entregas visuais. Acaba que os mais seniors se acham em dificuldade quando precisam mostrar trabalho desse tipo.
Alguns desses designers mais seniors construíram uma carreira no hype de uma indústria que queimava dinheiro, inflava times e valorizava jargões difíceis e não qualidade de entrega.
O etarismo é uma sombra para nós mais velhos, que ninguém gosta de falar mas é uma realidade óbvia de qualquer área, algumas sofrem mais do que outras com certeza, e na minha opinião o designer digital sofre (ou vai sofrer) bastante com isso
É claro que me assusto vendo gente desse escalão sendo demitidos, mas não me surpreendo, e conversando com colegas da nossa área eu vejo que a valorização do designer senior que ainda se sente responsável pela entrega é grande. Separei alguns comentários dessas conversas para vocês tirarem as próprias conclusões:
…já entrevistei gente “famosa” de design e a pessoa não foi bem. Muita teoria, e muito pouca prática.
Outro veterano, na mesma linha…
“Muita teoria e pouca prática” é a definição do profissional de design das últimas duas décadas, especialmente líderes. Os líderes de hoje não fazem e muitas vezes nunca fizeram nada relevante de design.
Venho daquela época em que você acumulava experiência “fazendo” e aí algum dia te convidavam pra liderar.
Veja como a prática vem antes da liderança e das bocas cheias de “estratégia” que vemos por aí. O tal do manager por acidente é uma constante em líderes que entregam resultados. Você pode não meter mais a mão no Figma, mas você precisa saber design para dar o selo de qualidade de entrega.
O Tim Allen, Global Head de Design & Research na Instacart, recentemente participou do podcast Finding Our Way e deu ótimos insights de como um líder de nível executivo ainda pode influenciar entregas.
Filtrar a tua atenção nos detalhes do design que realmente importam, por exemplo, investindo tempo em itens de design que estão baseados nas prioridades do negócio. Quando o design entregue transborda a área, é ali que ele entra com o seu expertise de anos para elevar o trabalho do time.
Remover toda a fricção que possa existir para o designer que está lá no Figma compartilhar uma ideia, uma solução… basicamente evitar o polimento do design enquanto ainda dentro da disciplina, abraçar o caos e fazer dele um amigo para a colaboração.
Outro ponto interessante que ele menciona, ter uma aliado no nível senior que possa segurar a onda enquanto você desvia sua atenção para algum detalhe do design.
Não podemos deixar de contar com o fator indústria, a mudança de foco do crescimento para o lucro e como isso afetou uma geração inteira de líderes.
…Muito dinheiro, equipes infladas, muita necessidade de coordenação, muita gente em Ops. Não tenho experiência de equipe grandes, mas minha impressão é que gerentes/diretoras abriram mão de muitas responsabilidade de processo. Mas agora com o cinto apertado, esse tipo de especialização fica secundária.
e a conversa continua, com…
Design Ops é importante quando o assunto é design system e outras ferramentas que otimizam o desempenho do time. Mas aqueles quilos de documentação que ninguém lê, ou aquelas revisões de processos e rituais que nunca chegam a lugar nenhum… é tudo desperdício.
E tem essa opinião que achei bem no ponto também:
…olhando o perfil, as empresas que ele trabalhou. não tem nada ali que diga "eu PRECISO dessa especialidade no meu time". ele tem várias experiências bacanas em IxDA, General Assembly, mas me parece muito acadêmico. Não tem portfolio no ar, nem ao menos um site.
… O tom em "I’m strategic & visionary. I’m a people developer. I’m a critic and teacher." não ajuda... se eu estivesse contratando designOps gostaria de ouvir "I'll make your company more efficient and save you a bunch of money."
E pra fechar esse comentário de um veterano de uma das big techs, que eu compartilho 100%
Gente… perdoem minha ignorância… mas até hj nao entendo direito esse tal de Design Ops… eu leio as definições na NNGroup e acho tudo muito confuso, já ouvi varias pessoas falando sobre o assunto e fico mais confuso ainda
Eu olho pra isso e vejo um monte de coisas que tem que ser direcionadas pelos líderes de Design
Ou seja, do mesmo jeito que vimos o mercado criando especializações como UI e UX. Me pergunto se o Ops é uma dessas tentativas que precisam ser colocadas em prática para depois, com o tempo, chegar a conclusão que talvez não tenha sido uma boa idéia? E quando vejo isso acontecendo, não tenho como não lembrar no excelente artigo escrito pelo Fabricio Teixeira - Are bad designers hiding behind the term “UX”? - alguém mais? 😬
Abraço e até a próxima!
Al Lucca
No mar de complexidade que a gente criou, fica difícil identificar o que realmente importa. Se nosso foco fosse apenas fazer produtos que as pessoas amam, os designers começariam do lugar certo e todo resto seria aprendizado relativo ao contexto onde se está encaixado. O que é preciso fazer na empresa que estou pra lançar um produto excelente? Se o time de design tem 300 pessoas, talvez seja mais importante usar tempo pra garantir que eles estão bem treinados. Se meu time tem poucos e ótimos designers, talvez o melhor uso do tempo seja desenhando algo do início ao fim garantindo qualidade máxima. Mas todos deviam ter o mínimo: um paladar aguçado pra produto. Pensamento estratégico, liderança, capacidade de influência... nada disso importa se no final, o produto fica uma m$@#a.
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