Existe uma comunidade “pequena” e fiel no Brasil que conhece meu trabalho e respeita minhas ideias. Mas no debate global, nos posts virais, nos painéis, nos podcasts e vídeos do mundo — eu sou um ninguém.
A gente cresce acreditando que boas ideias vencem. Que o conteúdo certo encontra seu público. Mas eu diria que a visibilidade importa mais do que originalidade. Na maioria dos casos, a distribuição vence o pensamento. Então volta e meia me pergunto:
vale a pena escrever se “ninguém” lê, até alguém famoso dizer a mesma coisa e daí viralizar?
Fui crítico do Design Thinking quando ainda era um sacrilégio questionar. Sempre achei forçada e errada a idéia do “todo mundo é designer”. Já cansei de escrever sobre como dados e métricas, embora úteis, não são oráculos. Questionei os títulos que fragmentam o que a gente faz em caixinhas bonitas, mas vazias, demonizei a rejeição ao craft pela grande maioria dos designers. Mas pouco desse conteúdo encontra a câmara de eco, até você estar navegando por aí e se deparar com quotes que viralizam, tipo:
“Acabaram-se os dias dos post-its nas paredes, dos wireframes em tons de cinza e dos marcadores em desenhos. Hoje, tudo precisa estar a serviço do resultado, do design visual e da sensação de cuidado e acabamento do produto.”
– Darrin Henein, VP de Design, ShopifyMAS QUEM DIRIA???? CAÍ DA CADEIRA DE TÃO SURPRESO QUE ESTOU LENDO ISSO. Ah taaa, mas é o VP de Design do Shopify que está dizendo isso.
ou
“O design visual realmente, realmente importa.”
– Mig Reyes, VP de Experiência de Produto, DuolingoNÃÃÃÃÃ… SÉRIO? Mas putz, é o VP de Design do Duolingo que falou.
Está tudo lá. Está no substack.thedesignedition.com, ou em posts no LinkedIn. Está escrito, publicado, registrado. Me lembra o desenho onde a motoquinha sempre dizia “Eu te disse, Eu te disse… mas eu te disse…”
E falando a verdade, reclamo de barriga cheia porque ultimamente meus posts tem tido em média mais de 2k visualizações, mas ainda assim não consigo conter dois sentimentos quando vejo algo online sobre um tema que já debati. O primeiro vem como frustração, olho os comentários, as interações, e penso… “mas como não viram que já escrevi sobre isso…” E o segundo é mais positivo, porque vejo que alguém compartilha das mesmas ideias e que se ele ou ela esta escrevendo sobre, é porque o tema existe. É muito provável que o fato de escrever em Português diminua um pouco as chances de algo “explodir” mas ainda acredito que esteja mais ligado ao título somado ao nome da empresa do que a língua original do texto.
Independente do sentimento, eu tento sempre lembrar que escrever me ajuda a pensar, mesmo que ninguém veja. De que algumas pessoas certas leem, mesmo que em silêncio. E que a ideia não é “minha” ou “deles”. Na verdade a gente só esta rondando o mesmo ponto de formas diferentes.
Mesmo assim, me pergunto como seria o debate se a gente fosse menos rápido em endeusar vozes conhecidas e mais atento a escutar quem está fora do holofote. Se valorizássemos mais o subsolo do pensamento, newsletters, comunidades pequenas, as conversas que acontecem longe do buzz, longe do instagram. Mas sinceramente não tenho a mínima idéia de como fazer isso.
Então deixo um convite, um estado mental que me ajudou muito na vida e ainda me ajuda nos dias de hoje. Questione tudo, mas não seja o chato rebelde, busque se adaptar, procure por brechas, seja um bom político influenciador e dê mais espaço para a tua intuição, e nunca assuma que fulano ou ciclano está em um cargo de grande visibilidade porque é bom no que faz, qualquer organização vai ter pessoas no poder simplesmente porque sabem se vender melhor, falam bonito, estão no lugar certo e na hora certa e com as conexões certas.
E mesmo se meus textos chegam a uma partícula de água dentro do oceano que seria a audiência total, vou continuar compartilhando o que penso. Porque acredito que ideias têm valor, mesmo que não ganhem milhares de curtidas, mas sei que alguém, em algum lugar, vai se conectar com aquilo que uma vez pensei que estava somente na minha cabeça, dando pra mim a esperança que não estou desperdiçando palavras ao vento no mundo das opiniões.
Até a próxima,
Al Lucca
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Pequenas comunidades, grandes impactos.
Sua publicação é uma das poucas em português que eu leio e pode ter certeza que o que você escreve é lido, digerido e compartilhado.
E uma coisa que as vezes me pego pensando é que é impossível saber de verdade o impacto daquilo que a gente publica. Porque as vezes uma única pessoa que leu seu artigo pode aplicar o conhecimento onde trabalha e isso impactar milhares ou milhões de pessoas.
No fim, acho que nutrir comunidades pequenas tem mais impacto porque as pessoas permanecem nelas porque confiam na qualidade do pensamento sendo compartilhado. Diferente de grandes comunidades que ou vira disputa de quem fala mais besteira ou acaba desaparecendo porque ninguém interage.
Boa semana Al!
O seu blog é um dos meus favoritos brother. Esse é o futuro da internet... comunidades mais compactas mas profundas em qualidade. A quantidade de gente que tá de saco cheio de conteúdo raso não é pra brincadeira.