Na época da pandemia eu comecei a escrever um post sobre criadores de conteúdo mas nunca terminei o post, o tempo passou e acho que está na hora de escrever algo sobre.
No mundo de hoje, onde o conteúdo é rei e a atenção é moeda, vemos um fenômeno intrigante: pessoas que começam a distribuir conteúdo em tópicos específicos (isso além do design, claro), mesmo sem a experiência técnica tradicional. A facilidade ou a naturalidade de criar conteúdo acaba superando a necessidade de expertise técnica real.
O padrão que vemos é o fulano/a que começa um canal no Youtube, Instagram, Linkedin, etc.., e conquista uma audiência considerável. Isso leva muitas pessoas, principalmente os mais jovens, a enxergarem essas figuras como grandes referências. Some a isso os organizadores de eventos e cursos que buscam essas pessoas por terem mais visibilidade, em detrimento de profissionais com experiência consolidada. A popularidade online, se torna o principal critério, criando a ilusão de que ter um canal online equivale a ser especialista — "ah, o cara tem um canal no youtube, com certeza é referência na área…" —, ou seja, a popularidade anula por completo o histórico de experiência na área que deveria ser o requisito, mas a capacidade de engajar e influenciar a audiência e o mercado substitui a experiência necessária.
a capacidade de engajar e influenciar a audiência e o mercado substitui a experiência necessária.
Essa dinâmica alcança até mesmo as instituições acadêmicas, que tradicionalmente serviam como filtro de qualidade. O curriculum que antes definia quem podia e quem não podia ensinar ficou em segundo plano, hoje o canal, o podcast, o instagram é o que valida o "profissional" - qualquer um que tenha a iniciativa de começar a criar conteúdo (me incluo nessa!) pode se tornar referência, independentemente de sua experiência prática. 🤷🏻
Um ciclo de enganação, onde todos perdem.
Reflexões
Naturalmente eu me faço algumas perguntas mais específicas a nossa indústria do Design, por exemplo:
É melhor ter esse tipo de conteúdo porque alguém teve a iniciativa de ir lá e fazer, ou seria melhor não ter nada?!
Talvez o ideal seja unir o melhor dos dois mundos: a curadoria e validação da era pré-influenciadores com a acessibilidade e o dinamismo da produção de conteúdo atual. Como conciliar a expertise tradicional com a escalabilidade do digital? Seria interessante pensar em formas de validação que contemplem critérios mais amplos, combinando experiência prática, qualidade do conteúdo e reconhecimento da comunidade.
Esses conteúdos ajudam ou prejudicam a profissão?!
É complexo. O carisma e a habilidade de comunicação deveriam ser complementos à expertise, e não substitutos. O aumento na quantidade e diversidade de conteúdo pode democratizar o acesso ao conhecimento e inspirar novos talentos. Mas é crucial desenvolver um senso crítico para distinguir entre conteúdo de qualidade e mero entretenimento.
Ou seja, alguns ganham popularidade pela presença na câmera ou no microfone e habilidades de entretenimento, outros combinam carisma com conhecimento genuíno. Precisamos pensar sobre o que valorizamos em nossos educadores e líderes de opinião. Será que priorizamos o estilo sobre a substância? Ou existe um equilíbrio a ser alcançado entre carisma e competência?
No final, a responsabilidade está no colo de todos nós, criadores, organizadores de eventos e cursos e audiência, temos que ter a maturidade necessária para desenvolver um senso crítico que distingue entre entretenimento e instrução real.
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The Design Edition tem materiais nos seguintes formatos:
🎧 The Design Edition podcast (2018 - 2021)
👨🏻💻 Casos Reais de Design (vídeos)
🏷️ Mapeamento de Carreira (Google Sheet)
🚦Resumo semanal do que é importante no mundo das Startups, assine o Pitch Presss.
Abraço e até a próxima
Al Lucca
Esse é o problema da era da informação. Um amigo designer da nossa comunidade me contou que, em uma ocasião, convidaram um rapaz que dizia ser 'designer' com muitos seguidores no Instagram para um podcast sobre design de interação e UX. O jovem passou vergonha, fazendo afirmações absurdas.
Esse cenário reflete um mercado que valoriza mais a fama e o número de seguidores do que quem possui experiência prática e o conhecimento sólido.
O volume de porcaria que se vê por aí é assustador.
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Tem tempo que a ideia de curadoria faz muito sentido para mim. Barra de exigência alta mesmo.
Podem chamar de "gate keeping" o quanto quiserem, mas em algum momento algo precisa ser feito para separar o joio do trigo.
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"Como conciliar a expertise tradicional com a escalabilidade do digital?"
Quem conseguir responder essa pergunta com sucesso, e se dedicar continuamente, estará ajudando muitos—além de, potencialmente, receber um pomposo retorno financeiro.
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Acertou em cheio na publicação, Al.