3 Perguntas para Rogério Fratin, Head de Design na Stilingue
Escutei uma entrevista do Rogério no podcast Papo de UX e achei super interessante o fato dele ter levantado questões relacionadas as mesmices, falta de novas experiências, etc… na área de Design de produtos digitais. Resolvi então convidar ele para a bateria de 3 perguntas e aqui estamos 🙂. Boa leitura!
As opiniões do convidado podem divergir das minhas próprias opiniões assim como o convidado não está em maneira nenhuma relacionado com o que eu escrevo nos meus textos. Os convidados não participam da conversa em função oficial e suas opiniões não refletem as da empresa em que trabalham.
Trois, Three, Três perguntas para…
Rogério Fratin, Head de Design na Stilingue
Tempo de leitura, de 4 a 5 minutos.
Podemos contar nos dedos os profissionais da área que se aventuram a dizer que Design não é só livro do Norman. Como nós podemos explorar mais sem bater de frente com conceitos básicos de UX sobre familiaridade, padrões, impacto em engajamento, revenue, etc?
Tenho sentido falta do novo, de novas discussões, temas diferentes, sabe? Toda hora é um monte de papo em cima de meia dúzia de livros - e a maior parte deles foi publicada antes do advento dos smartphones. Claro que autores como o Norman, o Nielsen, o Krug e o Garrett precisam ser respeitados, são autoridades e bastante inspiracionais. Ainda assim, acredito que pegar teorias cruas criadas numa Apple dos anos 1990 e tentar aplicá-las quase trinta anos depois e em contextos completamente diferentes pode beirar a inocência. Parece-me haver uma certa confusão entre o que é publicado que privilegia a teoria e as outras publicações que falam sobre prática, além de pouco questionamento sobre tudo isso.
Tem bastante coisa para ser explorada, como psicologia cognitiva, semiótica, linguagem visual, legibilidade, pesquisas quantitativa e qualitativa, práticas baseadas em evidências. Ando carente de grandes estudos acadêmicos que empurram nossa área para acessar os próximos problemas. Imagino que o imediatismo atual das atuações das pessoas em Produto, Design e Tecnologia não tenha dado muito espaço para experimentações. Ouvimos, sempre, sobre errar logo pra corrigir logo, mas não tenho a sensação de que esses erros aparecem por conta de experimentação, mas sim porque algo foi feito em condições não tão legais ou sem o tempo requerido. Errar e aprender e experimentar são coisas diferentes.
A atuação em modelo B2B não é falada em nenhum lugar; todo o foco das discussões, vídeos e postagens é para negócios B2C - e ambos têm características e possibilidades muito diferentes. De um lado, tem muito usuário pra fazer processos de descobertas, entrevistas, testes de usabilidade. Do outro, há uma prestação de contas de uma empresa para a outra, menos usuários disponíveis, as áreas de compliance e seus contatos podem ser um empecilho. E quando "acabam" os usuários pra entrevistar, o que fazer? Quando o negócio tem uma área muito específica, que não permite fazer testes rápidos ou validações em formato de guerrilha, como manter a voz do cliente presente nas tomadas de decisão sem que isso tenha morosidade?
Você tem experiência em grandes empresas e startups, como muda o papel do Designer nessas duas realidades?
Dentro dos estereótipos de startup como algo mais jovem, rápido e um pouco desestruturado, e de grandes empresas mais lentas, porém com mais visão do horizonte e certa estabilidade, alguém que chega para ser designer, deve ser designer. Deve ser ativo, buscar sua autonomia e assumir as responsabilidades de seus atos. Deve sair do seu espaço e invadir outros, outras áreas, entender como a coisa funciona, seja com o produto e o mercado, seja com o capítulo de Design da empresa. De repente em um lugar tem mais grana e mais desenvolvimento de atuação da disciplina, enquanto no outro precisa se virar com menos condição e ganhar espaços pra fazer mais e melhor. Não vejo uma situação dessa melhor, necessariamente, que a outra. Vejo como desafios e oportunidades para que a empresa seja transformada via Design.
Pode ser, até, que as diferenças mencionadas representem divergências entre o momento profissional e as intenções das pessoas que lá trabalham.
Tirando Normam, heurística disso e daquilo, que tipo de leitura você nos recomenda?
Sou adepto dos fundamentos muito bem aprofundados para que o resultado não seja catastrófico depois. Percebo que muita gente que migra de área para Design de produtos digitais acaba ficando sem essa base. Parece-me que todo mundo está supostamente pronto para o jogo, mas nunca quer investir tempo treinando. Sigo o ideal de aprofundar no Design como método, como projeto; de questionar o que é, de fato, Design. E, mesmo que essa resposta não venha, a busca pra ela pode ser até mais importante. O impacto social do Design de que trata o Gui Bonsiepe, os trabalhos nas carreiras de designers como Paul Rand, Alexandre Wollner, Ana Luisa Escorel, Saul Bass, Milton Glaser, Anamaria de Moraes, Paula Scher, Bea Feitler e Hugo Kovladoff, as teorias de Timothy Samara, Robert Bringhurst, Modesto Farina, Ellen Lupton. Conteúdo pra se divertir não falta. O que não dá é achar que tudo pode ser resolvido em um minuto de vídeo dançando no Tik Tok, em uma sequência de histórias no instagram ou em um texto do Medium.
Obrigado Rogério pela sua participação no The Design Edition!
Links para seguir e se conectar com o Rogério
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Até a próxima
Al Lucca