3 Perguntas para Alex Nako, Dir. de Design no Facebook
Essa semana parace que mais documentos serão publicados sobre o Facebook, e o Mark com planos de criar uma marca nova, no estilo Alphabet do Google, onde Social Media não seria mais o carro-chefe da empresa.
É fácil para nós, que vemos tudo isso de fora, criticar a plataforma, eu mesmo já fiz isso! Mesmo tendo amigos que trabalham lá dentro e mesmo já entrevistando lá também.
Mas são pessoas do bem, inteligentes e super talentosas como o Nako, que ainda me deixam otimista sobre o futuro do nosso relacionamento com redes sociais. Ele também nos conta um pouco do projeto a Curva do Sorriso e dicas importantes para quem pensa em liderança no Design. Boa leitura! 👇🏻
As opiniões do convidado podem divergir das minhas próprias opiniões assim como o convidado não está em maneira nenhuma relacionado com o que eu escrevo nos meus textos. Os convidados não participam da conversa em função oficial e suas opiniões não refletem as da empresa
Trois, Three, Três perguntas para…
Alex Nako, Diretor de Design no Facebook
Tempo de leitura, de 4 a 5 minutos.
As redes sociais tomaram um papel central na vida das pessoas, e vemos muitas discussões que exaltam a responsabilidade social que seus criadores devem assumir. Qual o papel dos Designers nesse desafio?
Sempre fui otimista em relação à tecnologia, ainda sou. Nessa praia, vale ler o livro do Matt Ridley “The Rational Optimist”. Mas concordo que o otimismo não nos isenta de responsabilidade, porque aí é que mora o perigo. Precisamos entender contextos em todos os seus detalhes, seja estudando as margens para que uma solução não exacerba desigualdades, seja exaurindo possibilidades de consequências não intencionais. A ideia de que uma experiência tem começo, meio e fim é falsa. O designer tem que pensar num loop contínuo onde vive sua solução. Para ser mais concreto, uma dica é focar em atributos objetivos como transparência e controle para o usuário.
Mas partindo para a subjetividade,a Margaret Stewart, VP de Design do Facebook na área de inovação responsável, colocou muito bem num artigo recente quando fala da diferença entre problema e dilema. O designer é instrumentado para resolver problemas. Por exemplo, para servir alguém com deficiência auditiva, basta mostrar legendas. Não existe nenhum lado ruim dessa decisão. Mas as dinâmicas sociais são muito mais complexas, e o designer muitas vezes tem que pensar em compromissos, porque não existe certo ou errado necessariamente. Precisamos nos tornar confortável com o desconfortável. Talvez o aspecto mais importante nessa área seja a diversidade, em toda a sua gama. Temos que avaliar dilemas de perspectivas complementares, até mesmo opostas, para estruturar os compromissos que devem ser feitos. Existe um paralelo aqui com a polarização em outros aspectos da sociedade, que pessoalmente acho um dos maiores perigos de hoje.
Você um dia me contou que o seu projeto A Curva do Sorriso é uma fonte de inspiração para você, quais são os planos para o projeto?
O projeto começou pela vontade de reconectar com o Brasil, de onde saí há 16 anos. Era uma vontade de compartilhar a minha experiência com a comunidade, mas acabou que eu talvez sai ganhando mais. Conheci novos líderes e abri os olhos para um Brasil muito atualizado. Ainda não consegui captar os aspectos mais macros da indústria do país, mas tenho aprofundado a conversa com designers por lá e os processos e técnicas não deixam nada a desejar comparado com o que vejo por aqui.
A conversa pública do projeto continua, mas acho que o próximo grande passo seria conectar diretamente com times e negócios, e entender como posso ajudar a acelerar coisas bacanas. Penso também em investir mais tempo, e até mesmo grana, em pequenos empreendedores tocando ideias e causas importantes.
É bem comum não termos acesso a formação de liderança na nossa área, como você se preparou e faz para se manter atualizado como um líder de Design?
A trajetória de “líder” para mim aconteceu de maneira meio orgânica, não comecei minha carreira pensando nisso. Olhando para trás, percebo 3 grandes fases. Primeiro foi o craft, começando lá atrás com design gráfico, mergulhando em programação e por fim, misturando os dois. Depois veio o empreendedorismo, tentando levantar minhas próprias ideias, criar algo do nada e bater a cabeça para fazer acontecer. Mais recentemente, com minha experiência no Facebook, veio a complexidade operacional, seja de escalonar estruturas, cultura, detalhar planos mais envolvidos. Acho que minha fundação de líder vem daí: na base, o respeito pelo ofício, talvez uma das grandes falhas daqueles que são ‘formados em liderança’, depois a determinação de assumir responsabilidade completa – a tal “ownership” – e por fim gestão.
Vejo também alguns fios condutores cortando essas etapas. Primeiro a curiosidade, que me deixa sempre inquieto. Eu sou inquisitivo, e pra me manter atualizado, confesso achar mais inspiração fora do mundo do design. O Manuel Lima, numa das entrevistas comigo, fala do problema da "monocultura" no mundo do design, e concordo completamente. Vai ser raro você me ver lendo sobre design, o que curto mesmo é filosofia, comportamento, tecnologia, economia e por aí vai. Outra paixão minha são relacionamentos, eu curto conhecer pessoas, entendê-las. Minha mulher brinca que eu estou sempre querendo fazer amigos, mas tem uma verdade aí. Empatia não é importante só para criar produtos melhores, mas para criar organizações mais saudáveis. Nesse viés, uma área que tenho dedicado muito meu desenvolvimento pessoal é a autoconsciência, um grande atributo de grandes líderes que admiro. Refletir, ser autocrítico, ser transparente sem medo de ser vulnerável nas minhas relações. Tenho o que aprender com todo mundo, seja junior ou senior. Isso me energiza bastante.
Não acho que tem muita receita, e acho até importante ressaltar que não existe um arquétipo de líder. Isso é uma falha, achar que o líder tem que ser a pessoa carismática, que fala mais alto, visionário. Isso é um modelo, mas eu também conheço líderes quietos, ponderados, inclusivos, que estão tocando coisas incríveis. Recomendo o livro “Acting with Power”, onde a Deborah Gruenfeld elabora sobre essas nuances do poder.
Obrigado Nako!
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Até a próxima
Al Lucca